Qual o nascedouro de águas que não saciam a sede?
De uma sombra que não refresca
e de um expressar
que diz sem dizer
o que é a beleza das pequenas coisas.

E o que é a beleza das pequenas coisas?

Há um encanto que rege o natural.
Temos fomes que o próprio existir desta fome a auto-sacia.
Não falo de fomes insaciáveis,
nem de quereres incontroláveis,
mas de um querer que quer a si próprio
e em si
se esvai
findando-se infinito.

Falo de uma inquietude que corre silenciosa,
uma correlação distante entre
homem e pedra, entre homem e bicho
e de tão distante se faz tão próxima,
pois o circulo finda-se em si mesmo.
Há uma conversa quase morta que mora nos gestos,
que habita cada linha do corpo e o constrói.

Bebo de uma água que me sacia,
mas não mata minha sede.
Deito-me em uma sombra que me refresca,
mas que não muda meu calor.
E falo de coisas que estão nas coisas para serem vistas.

A fala mora em cada um de nós,
assim como as coisas.

Escrito por Gabriel de Magalhães     26 e 27.10.2017

fotografia por gabriel de magalhães