Fundo-me feito vento que martela
temporal
O tempo se renova se os pés pisam no tempo certo,
mas é bruto e destrói
se eles param e se fincam
querendo criar raízes em uma terra que só ao tempo aceita.
É ele quem enraíza nossos rastros e lhes dá tamanho,
ao agora só cabe o feto, ao tempo o fato e ao futuro o feito.
Os pés se renovam se dançam humildes na terra,
sem peso,
mesmo que o tenham nos ombros,
mas trazendo na boca o canto
e no canto um sorriso,
não há terra que não dance junto
rastreando seu sustento.
gabriel de magalhães 06.09.2017
fotografia por gabriel de magalhães
ressurgir
O senso só vem quando o olho pisa no chão
e o corpo se deita a cada margem e bebe de cada rio.
O olho só se deita e bebe quando a boca se abrir, mas não para falar
e sim para receber as águas do rio.
Só quando o nariz se entregar, mas não para respirar
e sim para sentir o cheiro das folhas misturadas na água.
Só quando os ouvidos selecionarem, não o que querem ouvir,
mas o que precisam escutar da água.
Só quando a pele perceber que a tudo toca
e por tudo é tocada.
Aí, só então, os olhos hão de se fechar
e ver o rio
e beber da sua água, em paz.
gabriel de magalhães 13.08.2017
foto por gabriel de magalhães
firmamento
Fundo-me feito vento que martela
Sou a sela em que se assenta no caminho o cavaleiro
Eu sou o preto
Eu sou o vermelho
Sou aqui na tinta preta
o mesmo vermelho das veias
Eu vim
e vi
Eu vou
e vejo
Ergui as pedras e não fui visto
Que nelas portanto me vejam.
gabriel de magalhães 03.01.2017
foto por gabriel de magalhães
teto
Novembro mexe com minha cabeça e me deixa inquieto, me lembra de tudo em mim que precisa morrer.
e eu tenho pressa.
e eu tenho raiva.
e eu tenho Memória, a turva juíza dos homens.
e eu tenho Tempo, que não é turvo e é o único juíz possível.
tenho minha parte Memória e tenho minha parte no Tempo.
e tenho pressa e tenho pedras e uma porta entreaberta
uma única porta
minha porta
e de sua fresta vejo o caminho
um único caminho
meu caminho
e por um instante
um único instante
este instante de Novembro
vejo as sombras do caminho,
expostas.
sombras,
minhas sombras.
gabriel de magalhães 20.11.2016
foto por gabriel de magalhães
elo
é um impulso que dorme
mas que é
que não grita nem dói nem faz
mas que é
que não se compreende e nem pretende fazer-se compreendido
que não rasga nem destrói paredes
das casas velhas
mas que é
que é grito que não se ouve
que é dor ainda sem doer
que é ação imóvel
que é a compreensão natural que não necessita de explicações
que é a casa velha destruída em mil pedaços
com todas suas estruturas rasgadas e que queimam por dentro das casas velhas
enquanto ainda estão de pé
sou eu, um impulso que dorme
e que é.
escrito por gabriel de magalhães 09.11.2016 em cachoeira/bahia
foto por gabriel de magalhães
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